domingo, 10 de junho de 2012

Sobre Deusas, Ventres e Lamentos


Deméter, a Mãe Terra, tinha uma linda filha chamada Perséfone, que estava um dia brincando ao ar livre. Perséfone encontrou por acaso uma flor de rara beleza e estendeu os dedos para tocar seu lindo cálice. De repente, a terra começou a tremer e uma gigantesca fenda se abriu em ziguezague. Das profundezas das terra chegou Hades, alto e majestoso, o Deus dos Infernos.


Hades apanhou Perséfone, levando-a  para dentro da terra. Os gritos de Perséfone foram ficando cada vez mais fracos a medida que a fenda ia se fechando. Por toda a terra abateu-se um silêncio com odor de perfume de flores esmagadas. E a voz da donzela a gritar ecoou nas pedras das montanhas e borbulhou num lamento vindo do fundo do mar.




Deméter ouviu os gritos das pedras e o choro das águas. Arrancou a grinalda do cabelo, deixou cair de cada ombros seus véus escuros e saiu a sobrevoar a terra como uma enorme ave, chamando por sua filha.

E assim começou a procura longa e enlouquecida de Deméter por sua filha querida. Deméter esbravejava, chorava , gritava, fazia perguntas, procurava debaixo, dentro e em cima de todos os acidentes geográficos , implorava por misericórdia, implorava pela morte, mas não conseguia encontrar sua filha amada.

 Assim , ela, que havia gerado o crescimento perpétuo de tudo, amaldiçoou todos os campos férteis do  mundo, gritando na sua dor.



Em decorrência de sua maldição, nenhuma criança poderia nascer, nenhum trigo poderia crescer, nenhuma flor, nenhum ramo.

A própria Deméter não mais se banhava. Seus mantos estavam encharcados de lama, seus cabelos pendiam em cachos imundos.

Muito embora a dor de seu coração fosse tremenda, ela não se entregava. Depois de muita investigação, de muitos pedidos e de muito incidente, tudo levando a  nada, ela afinal perdeu as forças ao lado de um poço em uma aldeia desconhecida.

Quando recostou seu corpo dolorido na pedra fresca do poço, chegou por ali uma mulher, ou melhor, uma espécie de mulher


Esta mulher chegou dançando, balançando os quadris e os seios nesta pequena dança.
E quando Deméter a viu, não pode deixar de sorrir um pouco.

A fêmea que dançava era realmente mágica, pois não tinha nenhum tipo de cabeça, seus mamilos eram seus olhos e sua vulva era sua boca. Foi  este diferente e intrigante ser que começou a regalar Deméter com algumas piadas picantes e engraçadas.

Demeter começou a  sorrir , depois deu um risinho abafado até que soltou uma boa gargalhada.
Juntas, as duas mulheres riram, a pequena Deusa do Ventre, Baubo, e a poderosa Deusa Deméter, Mãe da Terra.

E foi o riso que tirou Deméter de sua depressão e lhe deu energia para prosseguir em sua busca pela filha, que acabou em sucesso, com a ajuda de Baubo, da velha Hécate, e do sol hélios.
Restituíram Perséfone a sua mãe.
O mundo, a terra e o ventre das mulheres voltaram a vicejar.


Texto: ~*~ Consultório de Afrodite~*~
Imagens: Pinterest

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